domingo, 5 de outubro de 2014

Capítulo Quarto

- Hey. Acorde. - Uma voz sussurrava em meu ouvido. Meus olhos demoraram um pouco para se acostumar com a luz e a primeira coisa que vi foram olhos verdes muito próximos de mim.
Ajeitei-me no meu assento, o corpo todo dolorido. Olhei bem a frente de nós, em direção ao pequeno centro da cidade e notei movimentação.
- Que horas são? - Perguntei mais pra mim mesmo do que pra uma cobra e uma garota medrosa. - Hn. Sete e quarenta e três. Está acordada desde que horas?
- Não sei. - Claro, ela não tem relógio - Mas faz um bom tempo.
- E por que não me acordou antes?
- Você parecia estar sonhando e achei que devesse descansar.
- Da próxima vez, não “ache”. Você me irrita. - Disse grosseiramente - Vamos. - Me virei para Nara - Fique aqui e não deixe ninguém ver você.
Fomos andando devagar até as lojas do centro da cidade. A garota me seguia de cabeça baixa.
Entramos em uma loja qualquer de roupas. A atendente veio até nós, sorridente. Eu conhecia esse tipo de sorriso.
- O senhor precisa de alguma ajuda? - Ela passava a mão nos cabelos, em uma tentativa frustrada de flerte.
- Eu não, ela precisa. - Apontei para a garota que decidiu se enfiar atrás de mim, acanhada como sempre.
Deixei ambas ali na recepção da loja e fui me sentar em uma cadeira. A garota me seguiu:
- Por que me trouxe até aqui?
- Bem, eu acho que isso aqui é uma loja de roupas. - Não era óbvio? - Eu não tenho tempo a perder com você. Use todo o seu dinheiro para comprar roupas decentes. Depois, a gente vai parar em algum lugar pra você almoçar.
- Você não...
- Olha, sério. Não me faz perder tempo explicando porque te trouxe aqui. Mas se quer mesmo uma resposta rápida, você está ridícula com essa vestimenta. Está chamando muita atenção e eu quero evitar isso.
Ela concordou, como sempre com um aceno e foi escolher algumas roupas. Eu olhava o movimento da rua, inerte a qualquer outra coisa.
A menina chegou até mim, com várias sacolas. Puxa, ela escolheu rápido.
Saímos do estabelecimento, sentindo o olhar insistente da vendedora em mim.
- Irritante. - Praguejei baixo, comigo mesmo.
Puxei as sacolas da mão da garota.
- Você quer tomar seu café da manhã aonde, garota?
- Me chame de Sam.
- Não. - Decidi por mim mesmo escolher o lugar.Então fomos a uma pequena padaria ali mesmo e ao chegar, Fiz o pedido de quatro coxinhas de frango e dois sucos de laranja. Ótimo café da manhã para começar o dia.
Sentei em uma mesa e ela sentou-se na minha frente. Sua expressão era... Raiva?
- Não vai me chamar pelo meu nome? - Pegou uma coxinha, comendo metade de uma só vez. E olha que esse salgado era grande.
- Seu nome não é Sam. É Samantha. E não pretendo ter vínculos com você. Chamá-la de garota, menina ou qualquer palavra popular vai me impedir de cometer erros futuros.
- Tudo bem. Se você não me chamar do jeito que eu lhe pedi, vou ser obrigada a te chamar de - Ela se aproximou, como se fosse uma criança querendo contar um segredo malvado - Kaleb!
Suspirei pesadamente. Essa menina está querendo brincar com a sanidade de um assassino, é isso? Desgraçada.
- Tudo bem garota, chame-me como quiser. - Afinal, me chamar de “Hunter”, no meio de um monte de gente não seria uma boa ideia.
Ela já estava acabando a segunda coxinha e eu ainda estava na metade da primeira.
- Tá com fome, fique com essa. - Empurrei meu prato com minha segunda coxinha e sem dizer nada, a pegou e literalmente, devorou-a.
Voltamos para o carro, onde Nara ainda dormia tranquilamente.
- Está com fome Nara? - Nem se deu ao luxo de responder, parecia que estava mais com sono. - Enfim, teremos no mínimo dois dias de viagem. E eu quero ter uma viagem tranquila. - Me virei incitando a indireta para a garota, Samantha.
- Defina tranquila...
- Sem escutar a sua voz.
Ela acenou e se virou para a janela. Ótimo, não olharia para aqueles olhos por um ótimo tempo.
Assim que liguei o carro, minha alegria acabou.
- Hey, por que tudo isso de viagem?
- Seria impossível viajarmos de avião por causa de Nara. Que pessoa em sã consciência leva uma cobra pro aeroporto? Além disso, quero fazer uma viagem segura e sem vestígios. Então, cala logo a boca e não me olhe com esses malditos olhos pelas próximas horas.
- Tá...
Em menos de quatro horas, a garota ficou loucamente apertada pra ir ao banheiro. Por sorte, chegamos rapidamente em um posto de gasolina. Nara saiu do carro, sem que ninguém visse, provavelmente para caçar. Fui ao banheiro, percebendo que, por todos os meus anos de experiência, estava fedendo a morte.
Aquilo começou a ficar estranho. A loja de conveniência estava cheia de mercadorias, mas em um dia comum e em um horário comercial, estava fechada. E não havia uma alma no posto.
Saí apressadamente do banheiro e a garota Samantha veio correndo em minha direção. Me abraçando.
- Me larga! - A notei chorando - O que foi dessa vez?
- Uma menina, tem uma menina lá dentro.
- Claro que tem, é um banheiro feminino.
- Ela está morta.
A puxei pelo braço e fui até o banheiro feminino. O cheiro de morte era muito mais forte ali. Parecia que estava há um tempo nesse lugar.
Então eu vi algo que me chocou. Não foi o corpo de uma garota que provavelmente era a atendente da loja de conveniência, nem a forma como fora mutilada. O que eu vi foi a cabeça da prostituta que eu havia matado na noite passada.

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