domingo, 5 de outubro de 2014

Prólogo

A noite estava especialmente fria neste mês de julho. Ele acabara de sair do bar e andava cambaleando pela calçada esburacada, parando de vez em quando pra descansar. "Será muito fácil", pensei já tirando a pistola com silenciador do sobretudo e colocando apenas uma bala, que seria mais que suficiente.
Ele virou em um beco escuro e sujo, tão parecido com sua vida. Fiquei na espreita, esperando um momento adequado para terminar meu trabalho.
- Vocês estão aí? A garota também está? - Do beco escuro saíram quatro homens, incluindo uma garota, de aparentemente 20 anos, com as mãos amarradas e amordaçada. Preparei-me, já colocando mais balas na arma. - Hun, docinho. Você é tão cheirosa.
Pude ver a garota chorando e tentando se afastar da minha vítima, de nojo. Vou ter que avisar ao Sr. Mattew que ao matar seus comparsas e a menina, o valor será quintuplicado.
Sem perder tempo, ele rasgou com veracidade a roupa da garota, mostrando a lingerie rosa. Ela parecia ser mais nova agora.
- Vamos, me dê prazer, sua vadia.
Ele a pegou pelos cabelos longos e a fez se ajoelhar no chão árido, abrindo os botões da calça logo em seguida e tirando a mordaça de sua boca.
Deu-lhe um tapa na cara e chegou perto de seus ouvidos, mas falando alto o suficiente para que eu escutasse:
- Se você fizer uma gracinha, vai morrer aqui mesmo, filha da puta.
Um tiro. Foi o que eu dei em um de seus comparsas que caiu desajeitado no chão. Não iria ficar pra ver essa merda toda. Tinha mais o que fazer.
- Quem está aí? - Ele olhou em direção à calçada, onde eu estava escondido. Fez a garota se levantar rapidamente e a usou como escudo.
Antes que seus comparsas chegassem até onde eu estava, já estavam mortos.
Sabia que minha vítima não estava armada, essa seria muito fácil.
- Vinte assassinatos, treze roubos e quase quinze estupros. - Mostrei-me a ele, com o capuz do sobretudo negro cobrindo meu rosto. - Seria o 15º se eu não estivesse aqui, correto, Senhor Antonie Claus? Mas, para sua infelicidade, você escolheu o garotinho errado para matar, quando assaltou aquela mansão há dois meses. O influente pai dele, Rony Mattew, me contratou para acabar com você. - Segurei minha pistola nas mãos, analisando-o e conferindo as duas balas restantes nele.
- Eu não vou morrer aqui, seu idiota! Vou me vingar desse homem inútil.
- Acho que isso não será possível. Mortos não voltam pra se vingar. - Apontei a arma em sua direção. Ele segurou ainda mais a menina, achando que eu erraria meu tiro e a acertaria.
Mas ele não escondeu suficientemente sua cabeça, parte mais importante e letal de todas. Com o tiro, ele se chocou violentamente no chão e um grito feminino ouviu-se soar pelo beco. A garota encolheu-se no chão, ainda com as mãos atadas.
Cheguei perto dela. Minha última bala. Ela chorava freneticamente quando apontei minha arma em sua direção. Já vi tantas vezes esse olhar que passei a ignorá-lo.
- Por favor! Por favor, me mate logo.
Eu parei de repente. Ninguém nunca me pediu para morrer, muito pelo contrário.
Ajoelhei-me perto da garota que olhava para meus olhos, meio indecisa sobre a cor deles, talvez.
- Me mate... - Ela já sussurrava, sem forças.
- Vou deixá-la viva, apenas por me pedir isso. - Sorri de escárnio.
- Eles irão atrás de mim.
- E isso é problema meu? - Retirei a corda que estava amarrando seus pulsos e os notei completamente machucados. Não pela corda, mas por algo pontiagudo.
- E-então me leve com você... Eu faço qualquer coisa que quiser. Mas não me deixe sozinha.
- Cale a boca. - Disse grosseiramente, fazendo-a se conter de medo - O que eu quero com uma criança inútil?
Me levantei e a deixei lá. Quem quer que a encontrasse poderia fazer o que quiser. Mas antes que eu me virasse para sair da escuridão do beco, a mão pequena da garota segurou meu sobretudo.
Virei-me bruscamente com os olhos em fúria pela insistência daquela criança, já apontando a arma para sua cabeça, quando vejo aqueles vulneráveis olhos chorosos. Olhos esses que me lembraram...
Por esse motivo, inclinei-me a infringir a maior regra de um assassino.
Tive um pequeno sentimento de pena por aquela criatura indefesa, que tanto lembrou-me uma pessoa que amei.
Talvez, se eu soubesse tudo o que aquele sentimento desencadearia, eu a teria matado naquela mesma hora.

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