domingo, 5 de outubro de 2014

Capítulo Segundo

O bordel era requintado e com luzes chamativas. Várias meretrizes passeavam pelo lugar com pouquíssima roupa e as dançarinas não possuíam nada que cobrisse seus seios. Precisei de duas semanas para marcar um horário com aquela vadia requisitada. Ela era uma mulher feia, na minha perspectiva. E me admirei muito que os homens fizessem fila para dormir com ela.
A procurei por todos os cantos. Por telefone, me passei por Hayato Nakashima, dono de uma propriedade rural no sul da Califórnia.
Ela estava bebendo num canto reservado do bar. Cheguei mais perto e ela me reconheceu, claro.
- Senhor Nakashima? - Ela estava um pouco alterada pelo álcool.
- Sim.
- Me arrumei especialmente para você. Há também um quarto especial, como me pediu, longe de tudo e todos. Eu também mantive tudo em sigilo, como o senhor me pediu.
Seus cabelos loiros desbotados refletiam seu cansaço. Sua maquiagem forte tentava em vão disfarçar as olheiras e as rugas que começavam a se formar. Talvez ela apenas chamasse atenção pelo esplêndido corpo escultural que possuia.
Ela, disfarçadamente, se levantou de onde estava e entrou em uma porta branca, que não era muito visível com as luzes incandescentes do lugar, já que as paredes eram brancas também.
Andamos por uns três minutos. Ela realmente escolhera um local muito bem reservado, passando o estacionamento e um motel de luxo que ficava ao lado do bordel.
Era um quarto do motel que era extremamente simples e aconchegante. Longe de tudo e de todos. Eu teria três horas para fazer o serviço e sair sem ser notado. Mas eu precisava de apenas vinte minutos.
- Então, srta. Collins, percebi que a senhorita é bastante requisitada nesse bordel.
- Ah sim. - Ela sorriu e começou a tirar a roupa, ficando apenas com uma lingerie pink. Eu odeio essa cor. - Sabe, é difícil encontrar um homem belo como você. São raras as noites que encontro homens assim, então para eles faço um ótimo serviço. - Ela tentou jogar seu melhor sorriso pervertido.
Sorri de escárnio.
- Me diga senhorita, para Adonis Blaya você também faz um bom serviço ou é de graça?
Sua feição mudou, de perversão para pânico. Acho que isso vai ficar muito divertido.
- O qu-que você está falando senhor Nakashima? - Ela se encostou na parede, assustada, enquanto eu tirava o facão afiado do paletó.
- Sabe Anne, me pagaram muito bem para fazer você ter uma morte dolorosa. Não tive como recusar um serviço tão tentador.
- Eu pago o dobro! - Ela já falava alto, em desespero.
- Desculpe Anne, mas esse é um valor que nenhuma prostituta, mesmo uma requisitada como você, poderá pagar. - Me aproximei sorrateiramente dela - Você não tem pra onde fugir.
Cheguei mais perto dela, enquanto chorava desesperada, a maquiagem borrando seu rosto todo e mostrando suas imperfeições que tanto tentara esconder.
- Apenas aceite sua morte. - Tirei o cabelo de seu rosto suado, para visualizar seus olhos de medo, que eu tanto amo. - Você é podre por dentro. Como um ninho de larvas. E eu preciso matar pessoas como você antes que se proliferem e causem mais danos.
- Não, por fav...
Tarde demais. Antes que ela dissesse mais alguma coisa, meu facão atravessou o lado direito do seu abdômen, não matando-a, mas a fazendo gemer de dor.
Puxei-a pelos cabelos loiros e a joguei na cama em forma de coração. A luz refletida na cama era vermelho, assim como os lençóis. Vermelho-sangue.
Ela caiu como um baque e apertou com a mão o lado em que a feri. Que inútil. Ela precisaria de muito mais do que um par de pequenas mãos pra poder sobreviver.
- É interessante como a vida pode virar do avesso, não é Anne Collins? Ficou encantada com um belo homem no bordel, o levou para um longínquo quarto a seu pedido e agora vai morrer de pouco em pouco, acabando com a sua estúpida e imprestável vida.
-Não... - Ela tentava gritar, mas estava perdendo bastante sangue. Então eu decidi fazê-la sofrer mais um pouco, cortando-lhe um pouco do seu pescoço, de leve, apenas para que sentisse dor.
Ela era fraca e logo percebi que estava perdendo a consciência. Decidi terminar o serviço aos poucos, enquanto ela ia morrendo.
Coloquei seu corpo já em óbito em um saco de lixo preto. Saí o mais depressa que pude e notei que haviam cinco homens perto da entrada do motel. Era meu único caminho e com certeza perguntariam sobre o saco de lixo.
Mas que droga!
Coloquei o saco de lado e peguei meu lenço, cobrindo uma parte do rosto. Senti a presença de Nara antes mesmo de chamá-la. Peguei o saco de volta e comecei a andar, de cabeça baixa.
- Ei, senhor! o que leva nesse saco? - Um dos homens, o maior e mais forte de todos veio em minha direção e notou meu lenço. - Retire esse lenço agora!
A mão dele veio em minha direção, o tempo suficiente para que eu pegasse meu facão e decepasse seu braço. O homem caiu de joelhos, gemendo de dor. Peguei rapidamente a arma com a mão que segurava a sacola e dei um único tiro com o silenciador.
Os outros quatro homens vinham rapidamente até mim. Nara interceptou um deles, dando uma mordida de rancar pedaço, em sua perna direita. Eu estava em certa desvantagem, já que não poderia, em hipótese alguma, largar o saco que estava pesando.
Por sorte, ninguém de dentro do bordel podia ouvir o massacre que estava acontecendo ali fora, devido à música altíssima. Muito menos os que estavam nos quartos de motel, já que tinham coisas mais importantes à fazer.
O homem gemia e se contorcia enquanto o veneno que Nara liberou ao mordê-lo na perna fazia o efeito desejado. Os outros dois homens vinham até mim com socos-ingleses e certos utensílios que pareciam ser feitos manualmente. Pude perceber que um deles usava uma faca com uma ponta que soltava um líquido branco: veneno.
Dois tiros da minha pistola bastariam para uma morte mais rápida. Isso se eu tivesse um pouco mais de distância ou com as mãos livres.
Isso! Com um pensamento rápido, joguei o saco de lixo com força, em direção a um deles, atordoando-o. Aproveitei e dei um tiro em seu abdômen, mas não percebi que o outro vinha com sua faca envenenada. Por sorte, Nara estava lá pra evitar que a ponta da faca me atingisse e o matou.
- Vamos! - Disse a Nara que já estava perto de mim novamente, enquanto eu corria rapidamente até uma parede, pulando-a com destreza para chegar do lado de fora do recinto.
Estava em uma rua deserta qualquer. Peguei outro saco e decepei a cabeça da mulher morta. A situação por eu ter sacudido o saco estava precária. Se não fosse anos de trabalho, já teria vomitado. Guardei apenas a cabeça no novo saco e deixei o saco com seu corpo em um latão de lixo qualquer, num dos becos da cidade.
Peguei o celular, enquanto limpava o sangue das minhas mãos no meu terno.
- Senhora Blaya?
- Sim.
- Acho que sabe quem está falando. Isso significa que seu trabalho foi realizado. Precisa que eu entregue a encomenda em mãos ou você mesma fará isso?
- Obrigada Hunter. Pode deixar aqui na minha residência. Sabe onde fica, certo? Estarei esperando na calçada com a desculpa de levar o lixo pra fora.
- Ok.
Em doze minutos estava lá. Nara estava na espreita, como sempre, zelando pela minha segurança. Mida Blaya estava esperando na calçada com um pijama branco, de cetim, quase transparente. Seus cabelos negros e cortados no ombro voavam com o vento frio. Ela era tão bela quanto perigosa.
- Que bom que está aqui. - Ela sorriu, eu ainda estava com o lenço no rosto - Já lhe dei alguns trabalhos. Será que não poderia ver seu rosto, ao menos uma vez?
Eu sabia qual era a sua intenção. Ter-me em seus braços. Por isso sempre arrumava alguém para que eu matasse. Eu aceitava porque ela sempre pagava muito, muito bem pelo serviço.
- Não confundo o meu lado profissional com o lado pessoal, Mida.
- Claro, então poderia vir um dia, me ver. Sem falarmos sobre seu trabalho. Apenas como amigos...
- Seu marido está em casa? - Mudei de assunto.
- Está sim. Peço que execute todo o serviço hoje.
- Você sabe que deve estar em outro lugar, não é? Poderia facilmente  ser a culpada pelo assassinato dele.
- Se você fizer o que eu mandar, ninguém vai sair como culpado.
- Eu tenho meus métodos, não preciso ser mandado por ninguém para executá-los da forma certa. - Disse ríspido. - Apenas vá correndo daqui a sete minutos, - olhei no relógio - até a casa de alguém que a conheça e que poderia lhe ajudar. Vou simular um assalto seguido de morte.
- Você é muito perspicaz, Hunter. - Ela chegou perto, pegando na aba do meu paletó com uma mão, enquanto a outra era usada para arranhar meu pescoço.
- E só uma coisa. - Cortei seu rosto com o facão - Você precisa de provas de que é inocente.
Rasguei sua camisola, a deixando quase nua. Por livre e espontânea vontade, ela deixara fazer alguns cortes em seu corpo escultural. O mais interessante é que ela apenas sorria com a dor.
- Sabe Hunter, - ela chegou até mim, antes que eu entrasse em sua casa, comprimindo seu corpo no meu - se for pra ser morta por alguém, gostaria que fosse por você.
- Vou entrar na sua casa agora. Lembre-se Mida, sete minutos.
Ela sorriu, o batom vermelho reluzindo junto com sua camisola de cetim toda rasgada e suja de sangue. Essa mulher é um encanto.
Atravessei o portão e vi pela janela que seu marido estava tomando café na cozinha. Entrei pela porta da sala de estar e fui em direção ao cômodo onde estava sentado.
Ele se assutou ao me ver.
- Q-quem é você? - Se levantou bruscamente e se encostou na pia expressão e atitude igual ao de sua amante.
- Eu vim lhe trazer esse belo presente. - Abri o saco e para mostrar a cabeça de Anne, já deplorável, em cima da mesa onde ele tomava seu café.
Ele se virou bruscamente e vomitou na pia.
- Você é o próximo. Mas creio que a sua morte vai ser um pouco mais rápida do que a dela. - Peguei minha pistola com silenciador e apontei a arma pra ele, que implorava para viver.
- Por favor, eu faço o que você quiser... Eu...
Um tiro na cabeça. Foi o suficiente para ele cair no chão, de qualquer jeito.
Bem, foi mais rápido do que pensei. Então, peguei a sacola de dinheiro que estava em cima do armário da cozinha, onde Mida havia deixado e chamei Nara, que prontamente estava perto de mim. Eu tinha mais dois minutos, então revirei a casa, peguei o saco de lixo com os restos da prostituta e saí em direção ao portão.
Mida já havia corrido até uma casa qualquer, pedindo socorro. O tempo correra exatamente como previra.
O plano era simples: Mida foi levar o lixo pra fora, enquanto um homem encapuzado chegou, a fez de refém em sua casa, junto com seu marido. Ele ia machucá-la, mas de alguma forma ela conseguiu fugir, fazendo o homem encapuzado ficar furioso e matar seu marido. O homem encapuzado revirou a casa e encontrou o dinheiro, saindo às pressas. Se ela souber explicar à polícia da forma correta, então será inocente. Se não, bem... Ela tem dinheiro para pagar alguns advogados e para calar algumas bocas.
Já perto de casa, joguei o saco, muito bem amarrado, no lixo. Chega de nojeiras por hoje, eu precisava de um banho demorado.
Cheguei em casa e Nara sumiu. Ela também precisava descansar.
Meio relutante, fui até o quarto da garota, que estava sentada na cama, encolhida.
- O que está fazendo acordada até essa hora?
- Eu estava sozinha... Fiquei com medo.
- Vá dormir. - Fechei a porta de seu quarto com força, fazendo um estrondo.

Liguei o chuveiro e deixei a água morna cair lentamente, deslizando pelo meu corpo. O sangue já ia embora junto com a corrente de água, quando ouvi meu celular tocar. Todo molhado, saí do banho e fui pingando até a escrivaninha do meu quarto. Mais tarde secaria o chão.
- Alô?
- Seu pai está muito orgulhoso de você, filho. Fez um estrago com a cabeça dessa prostituta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário